Dar à luz e não poder ficar com seu filho tão esperado e levá-lo para casa é uma das sensações mais difíceis. Mas é esta a realidade de milhares de mães de prematuros no Brasil. A neonatologista Bárbara Abrahão Ferraz, de Belo Horizonte (MG), acompanha vários deles, por conta do seu trabalho. Mas, além disso, ela própria também foi uma mãe de prematuro, já que seu filho, Matias, hoje com 3 anos, nasceu com apenas 32 semanas e 3 dias e precisou também ficar internado.
Nas últimas semanas, quando precisou levar uma pequena paciente para a internação, ela se lembrou dos dias que passou ali, com o seu pequeno. A partir da experiência, ela escreveu um texto emocionante, que compartilhou nas redes sociais. Com a foto de um pezinho minúsculo da bebê entre as mãos, ela escreveu:
“Hoje, levei essa pequena de 27 semanas e 645 g para o mesmo leito em que meu filho ficou internado quando nasceu. Passou um filme na cabeça, deu um nó na garganta, corri para não chorar ali, na frente de todo mundo. Não é fácil deixar seu filho para trás, não é fácil vê-lo recebendo um oxigênio que deveria ser o do ar que você respira, um alimento que deveria ser o que seu corpo produziu para ele. É difícil chegar em casa com a barriga e os braços vazios e o coração ainda mais. Algumas coisas a gente só entende depois da vivência. Hoje, eu entendo o propósito de Deus ao me permitir experienciar o outro lado. Antes de ser neonatologista, sou ‘mãe de CTI’. Que força isso tem! Que força isso me deu! Aprendo todos os dias com esses pequenos e suas famílias a ser melhor. Sofro e choro imaginando a longa e doída jornada. Só peço a Deus para que vocês também vejam algum propósito no caminho e em nenhum momento deixem de sentir a presença Dele e seus cuidados em cada detalhe”.
Em entrevista a CRESCER, a pediatra contou que a prematuridade de Matias não teve uma causa aparente. “De repente, perdi o tampão mucoso e, no mesmo dia, a bolsa rompeu e ele nasceu. Foi tudo muito rápido, eu não esperava mesmo”, lembra. Embora, como médica, atendesse a diversas famílias na mesma situação, foi só quando sentiu na pele, que pode compreender, de verdade, o que aquelas mães sentiam.
“Voltar para casa, olhar para a barriga vazia, não ter ninguém ali do seu lado no berço e imaginar os riscos que poderia correr por ser muito exposto ao CTI, a um ambiente contaminado... Tudo isso me deixou muito vulnerável. Tanto que, depois, eu voltei da licença maternidade para o CTI, mas não consegui continuar. Eu o via em todos os bebês na hora de entubar, de pegar um acesso venoso. Isso me travava, sabe? Eu não ia mais trabalhar feliz”, conta. Ela saiu da CTI, abriu um consultório e passou a trabalhar na sala de parto.
Quando viu a bebê de 27 semanas, Bárbara estava na mesma maternidade em que seu filho nasceu, o que trouxe uma série de lembranças. Quando Matias ficou internado, ela já trabalhava lá. Era uma dificuldade para ela encaixar-se no papel de mãe. “Eu conferia toda a medicação, queria discutir com os colegas...”, recorda-se. “Então, ver aquele bebezinho ali, naquele leito em que eu passei 17 dias, foi muito difícil. Eu revivi tudo e tive mesmo que entregar a bebê e sair às pressas, porque ia chorar na frente de todo mundo ali”, confessa.
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